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domingo, 2 de novembro de 2008

Santo do Dia !


São Martinho de lima !


1 - Um modelo de humildade


Transportemo-nos para além dos mares, ao Novo Mundo. Aí veneraremos com um culto igual dois Santos Irmãos Cooperadores, muito amigos: Martinho de Lima e João Macias.
Na origem do domínio espanhol, o Perú, mais extenso que nos nossos dias, compreendia ainda a Bolívia. Era uma região imensa onde, à sua chegada, em 1526, os invasores encontraram, no império dos Incas, uma civilização material muito desenvolvida e minas de oiro que pareciam prometer riquezas ilimitadas. A língua era o quichua, harmoniosa e sonora, própria para a poesia e para a eloquência, mas os recém-chegados, desprezando tudo o que era indígena e desconhecendo-lhe a beleza, obrigaram os índios a servirem-se da língua espanhola.
Huyana Capoc, o mais poderoso e o último dos Incas, acabava de morrer; as querelas dos competidores Incas favoreciam a vitória dos conquistadores. Em 1534, Pizarro, depois duma primeira viagem de descoberta, voltou ao Perú e fundou aí a cidade de Lima junto do Rimac.
Durante 300 anos, a Espanha, através de muitos conquistadores, mas não todos, possuiu o país e oprimiu-o com uma cobiça particularmente odiosa, exercida por uma nação que se dizia cavalheiresca, e católica.
Repartindo entre si as terras, o mesmo fizeram, com os habitantes, os companheiros de Pizarro. Arrogavam-se o direito de vida e de morte sobre os vencidos e exigiam destes um trabalho excessivo para esta raça de temperamento pouco resistente. Os índios não eram mais que animais de carga, nos campos e, sobretudo, nas minas. Contra esta situação se insurgiam os missionários de entre os quais sobressai o grande Fr. Bartolomeu de las Casas, O. P.
Obrigavam-nos a comprar por preços exorbitantes enormes quantidades de mercadorias de importação que eles não sabiam fazer. O direito do mais forte reinava, quase sempre sem contestação, as queixas das vítimas nem sempre eram ouvidas, o afastamento da capital, assegurava a imunidade aos funcionários subalternos. Nestas condições compreende-se o estado de espírito dos índios de Nova Granada. Tendo perguntado a S. Luís Bertran, o apóstolo dominicano da sua região, se os seus senhores podiam ir para a Céu, mediante resposta afirmativa, os pobres índios declararam: «Então, se temos que nos encontrar lá com os espanhóis, de modo nenhum queremos ir para lá».

2 - Nasce mulato
Em breve se operou a mistura de raças. Não respeitando os conquistadores a mulher indígena, os mestiços multiplicaram-se, enquanto que os europeus de sangue puro formavam uma aristocracia da riqueza e do poder na qual o orgulho marcava a par com a crueldade.
Foi nestas conjunturas que o Bem-aventurado Martinho veio ao mundo em Lima, aos 9 de Dezembro de 1469. Seu pai era João de Porres, nobre cavaleiro da Ordem de Alcântara, e sua mãe, Ana Velásquez, que, embora de condição livre, era de origem índia. Os grandes senhores, que não olhavam como falta, seduzir as raparigas de cor, não admitiam, contudo, desposá-las. Por isso os pais de Martinho não eram casados.
Nas feições parecia-se com sua mãe: Tez escura, cabelos rígidos dum negro azeviche; mas tanto ela era acanhada, preguiçosa, ignorante, tanto ele era inteligente, activo e precoce. Abandonado por seu sedutor, o pobre teria morrido de fome com os seus dois filhos, sem a intervenção de algumas almas caridosas. O feliz natural do pequeno. Martinho encantava a todos que se aproximavam dele e ficava-se comovido com a compaixão que mostrava para com os pobres.
Ele era uma criança pobre que não podia dar sem se privar do necessário. A opinião pública, acabou por se comover e infligir a D. João um vexame universal. O respeito humano, mais do que a ternura ou a consciência, determinou-o, enfim, a ocupar-se de Martinho, mas sem o reconhecer legalmente por seu filho, nem conceder à mãe a reparação que exigia a justiça.

3 - O pai dá-lhe certa instrução
Rejeitando de novo Ana e a filha, levou Martinho para Guayaquil, onde era a sua residência, mandou-o aprender a ler, escrever e contar; depois, com a idade de 12 anos pô-lo a aprender a arte de barbeiro. No início do século XVII o barbeiro era ainda, sobretudo na América, um enfermeiro empírico sem conhecimentos de anatomia ou de fisiologia. Sem a menor noção de desinfecção, lancetava feridas superficiais e furúnculos, endireitava com facilidade entorses e fracturas e, sobretudo, sangrava periodicamente as pessoas desejosas de continuar com saúde. O mais singular é que nenhum cliente morria. A falta de hospitais, de Ordens Religiosas hospitaleiras e mais de médicos esclarecidos, contribuía para aumentar a popularidade do barbeiro. A sua botica estava sempre cheia de fregueses. Era lá também que os ociosos iam saber novidades, verdadeiras ou falsas.
Martinho teve da sua arte uma concepção bem diferente. A sua fé profunda fazia-lhe ver no próximo um irmão a amar como a si mesmo, se pretendia ter para com Deus uma caridade verdadeira.
Até então ele não tinha podido distribuir senão alimentos tirados às suas magras refeições. Chegava agora a hora de se poder dedicar a um campo mais vasto. Depois das noites passadas em oração, passava os dias em consultas na botica do seu senhor, ou em visitas a casa de todos, ricos ou pobres, que o mandavam chamar. Apesar das preferências do seu coração pelos clientes menos afortunados, não se recusa a ninguém, distribuindo nas choupanas o dinheiro que o tinham obrigado a aceitar nos palácios.

4 - Irmão Cooperador Dominicano
Assim se passaram nove anos. Aos 22 anos é admitido no convento do Rosário em Lima como Irmão donato. Depois Deus permitiu que as virtudes de Martinho triunfassem dos preconceitos dos que o rodeavam. Os superiores puseram, enfim, de parte, as suas precauções; admitiram-no aos votos solenes e concederam-lhe o capuz que era a insígnia dos devotos e o donato tornou-se Irmão Cooperador no ano de 1603.
Confiaram-lhe o encargo de enfermeiro para o qual se encontrava preparado pelo seu antigo ofício. Sendo o convento muito numeroso, Martinho não tinha descanso. Apesar da dedicação de que, dia e noite, dava provas, continuamente, ouvia ainda chamarem-no pela humilhante alcunha de perro-negro, mas nada alterava a sua serenidade. Como é que se havia de agastar quando lhe falassem da sua origem pois que ele mesmo a lembrava a propósito de tudo?

5 - Influência junto do Arcebispo
Um dia que lhe falavam da influência que tinha junto do Arcebispo, D. Feliciano de Vega, influência devida somente às suas virtudes, coisa que ia contra todas as tradições espanholas, ele respondeu: «Eu não tenho tal influência. Os sinais de benevolência de que usam para comigo, são zombarias pelas quais querem testemunhar o desprezo que têm por mim. E é bem o que mereço, pois não sou senão um pobre idiota e um escapado à escravidão». Uma outra vez, um religioso doente irritou-se contra o enfermeiro, acusando-o de negligência. Este não respondeu palavra. O doente irritou-se ainda mais e fez um tal alarido que o superior acorreu a perguntar a que se passava: «Fui eu que recebi as cinzas», – respondeu o humilde irmão.
«O Reverendo Padre me lembrou muita a propósito a baixeza da minha origem e a enormidade das minhas faltas. Isto é prestarem-me um grande serviço porque são duas coisas que eu nunca devia perder de vista em presença dos Reverendos Padres que se dignam suportar-me apesar de eu ser mesmo assim».

6 - Milagres
Mas, por muita má vontade que tivessem contra ele, acabaram por se aperceber que, em favor dos seus doentes, o irmão Martinho fazia milagres.
Apesar de estarem as portas do Noviciado fechadas à chave, como era costume, e as chaves estarem nas mãos do Padre Submestre, o enfermeiro, penetrava por toda a parte e a qualquer hora. Nunca era preciso ter o cuidado de o chamar.
Respondendo ao pensamento mais secreto dos doentes, aparecia na cela sem que se pudesse adivinhar como tinha entrado. Ora trazia uma peça de roupa, ora trazia um fruto que apresentava ao que estava a arder em febre; depois desaparecia tão misteriosamente como tinha vindo. Por vezes perguntava aos noviços, sobretudo: - «Desejas tu viver, irmãozinho»? A resposta afirmativa, dizia: «Pois bem, não morrerás desta doença, vive meu filho, para trabalhares longo tempo na salvação das almas». E o noviço curava-se imediatamente.

7 - Os pobres, seus amigos
Os pobres, os órfãos e os escravos eram também amigos do bom irmão. Antes mesmo da sua entrada na Ordem, solicitava socorros para eles junto dos seus clientes mais favorecidos; mas a sua reputação de santidade generalizou-se de tal maneira que, dentro em breve, não teve mais necessidade de estender a mão. As larguezas afluíam.
Lima tinha-se tornado ponto de reunião de todos os aventureiros da Europa, atraídos pelo engodo do ouro. Assim como acontece na nossa época, no Transval ou no Alasca, fortunas consideráveis, construídas num dia, lá se destruíam também num dia. Os novos ricos apressavam-se a gozar enquanto era tempo; tudo eram festas, banquetes, abuso das bebidas e intermináveis partidas de jogo de cartas, perversão de todo o género; não era preciso gastar sem contar o que amanhã se esvairia como o fumo? Via por toda a parte luxo e miséria.
Mas se os exploradores lançavam pelas janelas o dinheiro que deviam sobretudo ao trabalho – dos indígenas não recusavam dá-lo para aliviar os infelizes. Alguns, mesmo confusos, na última hora, por causa das exacções de que se sentiam culpados, procuravam extinguir os seus remorsos por liberalidades póstumas.
A organização oficial dos socorros era muito rudimentar; por isso o irmão Martinho tornou pela força das circunstâncias, o homem mais rico de Lima, se se consideram, as quantias que o encarregavam de distribuir. Fundou um hospital, um orfanato, uma obra para dotação de raparigas pobres, uma outra para os pobres envergonhados e esta compreendia pessoas que pouco tempo antes tinham figurado entre as mais opulentas da cidade.
Para impedir que os padres se esquecessem da dignidade sacerdotal e lisonjeassem os ricos a fim de obterem os seus favores, procurava-lhes regularmente honorários de missa pelos defuntos, tirando-lhes assim todo o pretexto de mendigar. Um espírito maravilhosamente prático presidia a estas fundações. Cada dia da semana era consagrado a uma classe de necessitados; mas a distribuição não era feita ao acaso; os preguiçosos e os hipócritas eram desmascarados e despojados dos socorros.

8 - Obediência dos animais
A influência do irmão Martinho estendia-se até aos animais; a sua simplicidade e a sua pureza, conferiam-lhe um império sobre a natureza que lembrava o de Adão no Paraíso terrestre. Todo o animal maltratado ou ferido refugiava-se instintivamente junto dele, como se reconhecesse nele um protector e um médico. Por muito modesto que fosse, de ordinário sabia encontrar palavras duma reprovação enérgica, quando via algum proprietário bater nos animais de carga.
Todavia, respeitoso dos direitos conferidos por Deus ao homem sobre as criaturas, não permitia a estas que o prejudicassem.
Sendo, numa ocasião, invadido o convento por ratos que atacaram as provisões, vestuário e até os paramentos da sacristia, ordenaram ao irmão Martinho que os exterminasse. Cruelmente solicitado entre a obediência e a compaixão, serviu-se de um expediente. Tendo capturado um dos delinquentes, fez-lhe este discurso: «Irmãozinho rato, vai procurar os teus semelhantes e diz-lhes que venham cá. Eu encarregar-me-ei da vossa alimentação, se deixardes de causar estragos na casa».
Depois pôs no chão todos os cestos e cabazes que pôde juntar. Bem depressa, se viram os ratos e ratinhos que por si mesmos se metiam lá. O irmão levou-os ao fundo do jardim onde os pôs em liberdade. (A história não diz o que os vizinhos pensaram disto)! Duma e doutra parte o contrato foi mantido: ratos e ratinhos não voltaram mais ao convento e, de tempos a tempos, o irmão ia levar-lhes de comer. Uma gravura velha e nativa lembra o facto. Vê-se aí a sacristia invadida por ratos; há-os até nos cantos, ocupados em roer tudo a que chegam. No meio do quadro o irmão, facilmente reconhecível pelo tipo da sua raça. Com um dedo autoritário, faz sinal aos seus protegidos para se reunirem nos recipientes postos no chão.
Esta gravura parece ser pouco posterior ao facto a que ela diz respeito. Está muito espalhada nos velhos conventos de Espanha e Itália, onde o Santo é sobretudo olhado como protector contra os estragos causados pelos roedores. Em Itália ignora-se o seu nome, recorre-se à intercessão do «santo dos ratos», il santo dei topi.

9 - O segredo da sua santidade
O segredo da sua vida santa e heróica encontrou-o na ardente piedade para com o Mistério Eucarístico e a Paixão do Redentor, para com Nossa Senhora do Rosário, e vivendo plenamente dedicado a todos os seus irmãos dentro e fora do convento. Amou o jejum, a penitência aspérrima e a oração, sobretudo de noite, a exemplo de Jesus, haurindo nela as luzes de doutrina que admiravelmente ilustravam a sua vida cristã.
Faleceu em Lima, no dia 3 de Novembro de 1639. O Papa Gregório XVI declarou-o Bem-aventurado em 1837 e João XXIII inscreveu-o no catálogo dos Santos no dia 6 de Maio de 1962. S. Martinho de Lima, o Martinho da caridade, atrai os corações de todas as pessoas de bem, nas Américas do Norte e do Sul, na África... não só pela sua singular humildade mas também por ser ele próprio um símbolo. É o Padroeiro dos Irmãos Cooperadores Dominicanos. A sua festa celebra-se a 3 de Novembro.

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